quinta-feira, 15 de junho de 2017

Maratona de Porto Alegre: Parte 3

A largada numa maratona, se você não é da elite e nem tem metas altas, é bem tranquila, geralmente sem pressa, pois o caminho é muito longo. Mas não no caso desta de Porto Alegre: as pessoas já saíram num ritmo forte, talvez por já saberem que  não haveria subidas limitadoras. E é muito difícil não irmos no embalo, difícil não se empolgar, de não ficarmos no "bloco" e não fui exceção. Isto me custou muito lá na frente e, durante a corrida, mesmo  tendo ciência do que estava acontecendo, não conseguia me controlar.
Explicando melhor: meus treinos para maratona (que foram entre 28km e 32km) foram no "pace" de 6 minutos (traduzindo: 10 km por hora). A estratégia foi muito boa em Foz e queria manter o mesmo tempo em Porto Alegre. Mas a "correnteza" de corredores me empurrava e o corpo se deixou levar: quando estava nos 5km, o tempo era de 26 minutos (era para ser 30 minutos). Tentei recuar, olhar pro Rio Guaíba, esquecer a multidão, mas no Km 10 lá  estava eu novamente correndo mais forte que o estabelecido. Então eu tentava me distrair, olhando os corredores dos 21km (que já estavam voltando) mas mesmo assim, nos km 15, o meu tempo estava mais baixo que qualquer São Silvestre que já tinha participado! Então realmente me seguirei até os 21km e fiz no tempo  planejado: 2 horas e 5 minutos. Mas depois (não devia ter feito isto!) pensei: "Ah, já estou na metade, vou me soltar um pouco" e fui correndo com tudo, até que perto do km 28 aconteceu o que nunca tinha acontecido durante um treino de longo (só nos treinos de pista): uma dor bastante violenta na lateral, aquela dor na região do fígado (o que me fez pensar, após a maratona, se os exames alterados que fiz nesta região não eram verdadeiros). Olhei pro meu relógio: 2horas e 40 minutos de corrida, 20 minutos mais rápida que nos treinos!
Tive que andar e, neste ponto, já sabia que a minha maratona estava ferrada. Um corredor me ofereceu rapadura, peguei mais como forma de consolo mesmo. E a dor voltou  umas três vezes! E aconteceu  a única coisa que eu não queria pra esta prova: andar e correr, E foi um sofrimento muito grande, pois a partir desta parada, os músculos das pernas entenderam que era fim. Mas eu tinha que chegar.
E havia muitas possibilidades no percurso para cortar o caminho ( e com dores, a tentação é bem maior!) mas ainda bem que fui honesta comigo mesma: em todos o s trechos "tentadores" havia o tapete da cronometragem e  não passar por eles causaria a minha desclassificação (que horror pra mim seria uma coisa destas!) E depois destas quedas de desempenho, finalmente fiquei no bloco dos "quebrados" lá no km 35. Agora estava no grupo certo.
Que vontade de pedir carona para os ciclistas que passavam por nós! E até vontade de ir ao banheiro deu, mas nada de banheiros químicos no caminho!
E tinha uma moça com uma camiseta onde se lia: "Até a minha vó consegue" e quando alguém fazia menção ao que estava na camiseta ( e ela destruída, como eu) ela xingava baixinho a pessoa. E tinha muita roupas de frio (roupas, luvas e até blusas) jogadas pelo chão, provavelmente de corredores arrependidos de suas escolhas. E tinha gente sentada em cadeiras de praia, tomando chimarrão, só apreciando o nosso estado zumbi. E o estádio Beira Rio, a praça das "tetas" e até o rio Guaíba, tão lindos no dia anterior, tornaram-se bastante sem graça durante a prova. Pensava somente que aquela seria a última maratona, que o sofrimento era desumano demais pra continuar insistindo nisto no futuro.
E chegou a placa 40km. E eu pensei: "Vai doer horrores, mas vou correr ate o fim. Vou ter tempo pra recuperar depois." E assim foi. Que dor, que cansaço, que sofrimento! As fotos que tiraram minha nestes quilômetros são horrorosas, refletindo exatamente o que eu sentia por dentro. Mas nos últimos 500 metros tinha muita gente apoiando e batendo palmas, me chamando pelo nome que estava escrito no número de peito. Então chorei muito, como já disse. Ficou mais horrível ainda correr e respirar, mas não dava pra controlar. Mas cheguei.
Então, depois de chorar mais um pouco, fui pegar a minha camiseta de "Finisher 42.195m". Agora sim, poderia usá-la!
Sofrendo

Usando a camiseta merecida


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