Não sou
especialista, mas desconfio que correr não seja algo da nossa natureza, a gente
meio que força para isto acontecer. Só isso explicaria a dificuldade que é
voltar aos treinos de longas distâncias após um período de 40 dias
correndo apenas 10km - ou menos.
(Obs: Não vou mencionar que esta dificuldade possa ser a canseira dos 41 porque não quero admitir que já tenho esta idade, eu ainda sinto o gosto do pedaço de bolo que comi no meu aniversário de 25! É, tenho memória gustativa de formiga.Se é que elas tem memória)
Como já
disse na introdução da minha jornada "maratonística", tive uma lesão
no pé e, além disto, um tratamento longo e cheio de antibióticos para o
estômago que atrapalharam minha vida de corredora. Nem que eu quisesse
daria para treinar direito, o corpo não colaborava muito. Quando o pé
melhorou e o tratamento terminou, lá fui eu tentar voltar aos 20km rotineiros
de domingo. Foi triste.
Em
primeiro lugar, tentei o percurso de sempre, perto de casa e no asfalto: além
de não conseguir, a sola do meus pés queimavam como se estivesse descalça.
Tentei novamente. Não conseguia passar dos 15km. Comecei a treinar na
Lagoa do Taquaral (Campinas) na parte de terra, para evitar a dor da sola dos
pés. Tive companhia de meus colegas de treino de Paulínia, foi ótimo, mas o
peso das minhas panturrilhas era gigante e isto me deixava insegura (e se elas
quebrassem? Tá, sou neurótica com minhas pernas) e o cansaço também era grande.
Enfim, consegui correr os 20km apenas após 5 tentativas, ou seja, 5 domingos. Uma
eternidade!
Após
“firmar” nos 20km, fiz duas meias maratonas: os 24km de SP e a de Campinas,
todas no estilo urso Balu, do desenho do Mogli: “Necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais.” Depois
que fui assaltada à mão armada este ano, mudei muito o meu modo de pensar em
relação às corridas. Quero curtir a paisagem e a leveza do corpo, não mais o
descompasso do coração. Está bom assim, só preciso aprender a controlar a
vaidade que me sacode de vez em quando em busca de tempos melhores.
Pra quê, se o prêmio é ótimo e o mesmo para todos no final?
(Obs 2: Que desapegada, não? )
A
distância dos 20km é maravilhosa depois que voltamos a ela! Há um trecho dentro
do meu percurso rotineiro que é dentro de um condomínio, ainda sem moradores.
Quando estou sozinha e não tem ninguém por perto pra me chamar de doida, corro
de braços abertos, sentindo o ar fresco da manhã e a energia do sol que
acaba de nascer. Todos os problemas parecem distantes e descabidos
em momentos assim. É claro que no fim do longão estou bem cansada, mas a
sensação de realização pelo treino realizado que sentirei o dia todo motiva o
esforço. Então me pergunto: O que deu na minha cabeça pra querer correr uma
maratona já que sei que ela não será tão prazerosa assim, mesmo que eu me
prepare bastante?
A emoção
do desconhecido talvez seja a resposta. Mas o caminho já vi que é difícil, meus
primeiros 28km podem dizer. E, no próximo capítulo, vou deixar eles falarem por
si!