Não pensem que sou daquelas
pessoas doidas que praticam corrida sem frequentar o cardiologista, não tenho a
mínima vontade de morrer correndo toda suada, fedendo e com sede. Então tenho (tinha) um cardiologista que vejo (via) de dois em dois anos porque, segundo ele, este tempo é suficiente se a
questão é só verificar se estou apta para meu querido esporte.
A primeira vez que fui neste
cardiologista foi por causa de um
relógio com marcador cardíaco que apontava sempre que eu estava tendo um
infarto enquanto eu corria. Ele fez todos os exames, inclusive o de esteira-
achei horrível, nunca corri em esteira, que coisa mais sem graça, parece
instrumento de tortura- e falou pra jogar o relógio fora e correr
tranquilamente. Ele foi muito legal, disse que a mulher dele teve o mesmo
problema com o monitor cardíaco dela, me senti até à vontade para falar mal de
uns ortopedistas que ficam mandando a gente parar de correr na primeira lesão
que aparece e ficam praticamente jogando praga profetizando que teremos dores
lancinantes no quadril quando ficarmos velhos e o cardiologista foi todo bacana
concordando comigo que é assim mesmo, que alguns colegas de profissão são meio
exagerados. Achei o médico o máximo!
Só que dois anos depois ele foi
possuído pela alma de um médico ortopedista agourento!
Fui ao consultório, ele mal olhou pra minha cara, fez os exames
de eletro, considerou desnecessário fazer esteira, mandou fazer uns exames de
sangue e disse que eu nem precisava tanto assim ir de dois em dois anos. Isso foi em outubro do ano passado.
Voltei ao consultório dele em
abril pra pegar o tal laudo pra fazer a maratona de Foz e eu, toda animada, pensando que ele iria
simplesmente fazer o documento. Coitada de mim: ele mandou fazer o teste de esteira porque eu não tinha feito da outra vez.
Eu: Mas só não fiz esteira porque
você falou que eu não precisava!
Médico possuído: Mas você não ia
correr uma maratona, não é?
Médico Possuído de novo: E é
melhor você dar seus pulos: teste de esteira
neste prazo de 10 dias pra você fazer a inscrição, não sei se vai dar. E
eu não posso assinar laudo sem ter certeza do seu quadro clínico.
Eu (pensando e olhando
silenciosamente para o médico): Como assim, só faço esteira se eu fizer maratona?
E as outras corridas? Por que na
primeira vez eu fiz então?
Eu (falando agora): Tá.
(Sei que a minha postura foi
muito submissa, mas não estava a fim de trocar- muito menos brigar- com o
cardiologista com um prazo tão curto de tempo para resolver meu problema.)
Fui atrás dos lugares para marcar
a tal da esteira. Todas as clínicas só
tinham o exame para o mês seguinte.
Quando cheguei no terceiro local,
acho que meu olhar foi tão desesperador (provavelmente a voz de súplica também
ajudou) que a recepcionista me encaixou num horário na mesma semana. O
cardiologista do teste foi muito simpático e tal, mas agora não caio mais nesta
conversa de médico legal.
Peguei o resultado do teste. Levei para o cardiologista. Ele
finalmente fez o laudo. Mandei por email para a organização da prova de Foz . Deu
certo. No minuto final, como sempre, mesmo que eu planeje tudo com bastante
antecedência.
Meu marido diz que o meu ex- cardiologista não fez nada de
errado, que é assim que as coisas funcionam. Não concordo: se realmente ele se
importasse com o meu “coração”, teria feito o teste de esteira quando fui fazer
meus exames de rotina. Pra mim, a preocupação dele era outra: o nome dele no
papel. E só.