segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

O Paradoxo da Maratona de Curitiba


Só agora, após praticamente 15 dias da maratona de Curitiba, escrevo sobre como ela foi. Foi a retrospectiva mais demorada que já fiz de uma maratona. E atribuo a isto alguns motivos:
  • Meu computador está uma bosta!
  • Eu fico muito estressada no mês de novembro: É época de fechamento de notas dos meus alunos, atribuição de aulas, conselhos de Professores e também preciso ajudar minha filha a estudar para as avaliações finais. Todo o cansaço do ano chega e não há como desconsiderar estes aspectos  na minha percepção da Maratona de Curitiba: o peso do cansaço do ano, ainda mais neste que praticamente não teve feriados “úteis” foi levado comigo para Curitiba.
  •  Inconscientemente, talvez, eu adiei este relato para que o tempo me desse mais tempo de avaliar os fatos ocorridos no último 17 de novembro de 2019 ( E olha só esta frase, parece uma introdução de texto literário! As maratonas são uma saga mesmo!)
  •   Primeira maratona acompanhada o tempo todo: é muito diferente isto e ainda não sei se isto é legal, pois a gente carrega também um certo peso de estar atrapalhando alguém que corre mais que a gente - mesmo ela falando que sabia que seria assim, que é o que a Joana falou pra mim. Em treinos, não ligo muito pra isto não, mas em provas isto é diferente!  E é estranho escrever uma perspectiva totalmente pessoal de algo que foi feito em dupla. 
  • E vamos lá então, já que comecei em tom literário, vou escrever em tom literário aqui:
                                                 Saga de uma maratona

“Naquela manhã de domingo do dia 17 de novembro, o dia estava lindo e o clima ameno. Como Joana e eu estávamos em um flat praticamente dentro do calmíssimo Bosque do Papa, ouvíamos o som de passarinhos da janela, uma manhã idílica. As roupas e acessórios de corrida já estavam arrumados no dia anterior, e mesmo me esquecendo do Garmim em casa, o que eu lamentava mesmo era os meus óculos escuros,  que eu também tinha me esquecido: como correr uma maratona sem óculos escuros? Uma tragédia!
O café da manhã foi  saudável, claro,  e coloquei quase todo o pote de vaselina nos meus pés, o que deu muito certo, pois após a maratona, pela primeira vez não tive bolhas, e, por outro lado foi ruim, pois esqueci de proteger a minha boca e fiquei com os lábios todos estourados durante uma semana! 
E fomos a pé até a largada, ficamos num lugar realmente maravilhoso, a Joana escolheu muito bem! Encontramos mais um corredor no caminho, que já tinha corrido 12 maratonas- e eu me achando por esta ser a minha 5ª! Na largada, me chamou a atenção uma moça urinando por cima da roupa, agachada, e toda aquela urina escorrendo no chão, confesso que achei inapropriado, mesmo entendendo os motivos dela (fila gigantesca no banheiro). Também chamou a atenção um homem com uma placa no rabo escrito “fora STF” e é claro que a placa estaria no rabo mesmo, que é um lugar que este pessoal tem certa obsessão. Estávamos ao lado do pacer de 5:30, que iria correr carregando um carrinho de criança.  E a largada aconteceu.
Nos primeiros momentos, plano (ou quase), o grande momento foi ouvir parte da torcida do Coritiba em cima do viaduto com a sua bateria para animar a gente. Mas à medida que o os quilômetros foram sendo percorridos, fui ficando mais irritada, pois as subidas eram constantes, mesmo que não fossem tão “inclinadas”. Não havia altimetria de  "descanso". E aquilo foi me dando uma irritação e um arrependimento, o cenário ia ficando cada vez mais sem graça e eu me perguntando: “se era pra correr num lugar feio e cheios de subidas como aqui, deveria ter feito a maratona de Sorocaba ou Campinas mesmo”, “não acredito que gastei dinheiro pra vir pra um lugar destes!”, " Nem parque do Iguaçu, nem Cachoeiras no final. Cadê a beleza de Floripa? Cadê Copacabana do Rio? Cadê o Centro Histórico, só vejo mercados nesta bagaça!”
E o ódio foi subindo meu coração! E a Joana, toda bondosa, indo na frente pegar água pra mim e tentando me animar! Pedi os óculos dela, precisava de um filtro para aquilo tudo e ela me emprestou e nem assim me animei: No 8km resolvi começar a andar, aquelas subidas eram um desaforo! Emburrei mesmo e foi assim, neste estado de correr e andar que cheguei nos 21km mais ferrados que já corri. Que vontade de desistir e só não o fiz não porque estava sem dor !
Até os 21km, conversei e vi pessoas interessantes: conheci uma mulher já idosa que já foi profissional e esta era a 101ª maratona dela (segundo ela) e ela também estava “administrando” a maratona andando de vez em quando ( adorei o termo “administrar” pra situações assim, vou usar mais vezes) Teve um cara que disse que quebrou na maratona anterior e que estava tentando se superar agora, para vencer o trauma! Teve um senhor de 80 anos, famoso aqui na região, correndo também e fiquei com uma vergonha danada de andar e voltei a correr quando vi ele.
E eu dizendo pra Joana ir em frente e ela não ia, porque não foi este o combinado. Eu fiquei impressionada com a determinação dela em me "carregar"! E uns 3 kms à frente, na curva, vi o pacer de 5:30 passando com o carrinho de criança...
Depois dos 21km começaram dois milagres, o primeiro das descidas – finalmente-  e o segundo, o mais inesperado e belo de toda a maratona: as pessoas e a “feira” que se iniciava. O tempo todo assessorias torcendo, crianças estendendo a mão para dar uma força, comida e bebida : melancia, bananas picadas, sorvete, refrigerantes e tinha até cerveja! E também começaram a aparecer algumas árvores. E a esperança renasceu dentro de mim e eu fui comendo e bebendo tudo que ofereciam e a maratona foi ficando uma festa até o km 38.
A partir dos 38km (ou por aí) chegamos perto da entrada do Jardim Botânico e é claro que não entramos nele porque parece que a regra desta maratona era continuar feia do começo ao fim. E começaram umas subidas realmente inclinadonas, e aquilo só poderia ser sacanagem, bem no final, quando já estamos morrendo! O interessante é que o último km é uma descida gigantesca, mas nem assim  me animei: os efeitos das comilanças lá atrás começavam a aparecer. 
Até que finalmente acabou a maratona, amém"

                                                                           FIM


EPÍLOGO 1: Tô com vontade de voltar em 2020 pra Maratona de Curitiba: me internem! Mas antes, tenho a SPCITY como certeza, já passou da hora de correr uma maratona "em casa". 

EPÍLOGO 2: E estes pensamentos que a gente tem durante uma maratona: "Nunca mais vou fazer", duram sempre? Tô me sentindo uma fraude...




O que a gente não faz por uma medalha destas?
Eu e Joana: obrigada pela paciência ♥️