domingo, 21 de agosto de 2016

Capítulo IX: DÓI


Qual a função da dor? A principal deve ser avisar que departamentos do corpo não andam bem, para que atitudes possam ser tomadas. A outra,  é fazer-nos lembrar como é bom viver sem ela,  uma espécie de recado perpétuo do universo: “ a vida está boa, você não está com dor, não reclame!”
As dores que tomam a nossa vida durante os treinos para a maratona não são daquelas insuportáveis que ameaçam a nossa existência. Nada disso. São dores chatinhas apenas, que fazem com que fiquemos mais tensos ainda e acabam causando mais dores, uma sequência bem desagradável.
E vem uma dor muscular aqui, outra ali, uma dificuldade para treinar e tudo complica. Meu último longo de 32km foi pura chateação. Corri até parar de doer num local, então aparecia a dor em outro. Desta vez, tive até que caminhar alguns trechos. Ai que saco!
Há consolos para tudo isso, claro: o primeiro é sempre lembrar que esta é a minha primeira maratona, que realmente o meu corpo não está acostumado com esta novidade, mas que um dia ele vai sim, especialmente se eu continuar insistindo e costumo não desistir. Que da mesma forma como aconteceu com os 20km, um dia vou achar que um longo de domingo de 30km vai ser um dia de boa como qualquer outro (pretendo continuar fazendo estes treinos uma vez por mês, tendo maratona à vista ou não.)
O outro consolo é saber que há um quê de sensação de vitória a cada dor vencida e superada. Ninguém volta de uma dor como era antes, é bom não sermos sempre os mesmos. É bom renovar os ciclos da vida. É bom correr até o limite. A gente se sente meio que um super- herói.  A vida está aí pra não ser simples.
Então hoje, final de Olimpíadas (como os atletas de elite inspiram os amadores!) com uma dor de garganta danada,  quase afônica, num dia de chuva e frio, estou  teclando aqui com  um sorrisinho no rosto por não ter encontrado nem ao menos um ciclista neste dia difícil de treino e eu fui mesmo assim, enquanto a maioria das pessoas dormiam ainda. Esta sensação ninguém tira.
Talvez o extraordinário esteja nas coisas simples  que a gente coloca na cabeça. Na minha, tem até distância: 42km. Sei que vai doer. Mas valerá a pena.