quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Epílogo de Foz do Iguaçu

Que saudades das Cataratas! E das minhas pernas firmes e fortes, porque estas que eu trouxe de lá estão parecendo gelatinas!

Hoje faz 20 dias que corri a minha primeira maratona. Algumas coisas posso falar com mais racionalidade agora, especialmente  duas características fantásticas  da prova que esqueci de dizer: a saída não ser o mesmo lugar da chegada ( é muito bom só ir para frente e não ficar dando voltas) e o clima fantástico que estava no dia, nem calor, nem frio, uma perfeição! Também analisando a minha “performance” (Que palavra chique!) poderia ter corrido todo o trajeto, sem andar, tá certo que é fácil falar agora que estou  aqui sentada e descansada, mas as pernas só estavam estressadas, não lesionadas. Seria na velocidade "trote", o que reduziria no máximo uns 10 minutos o meu tempo final, mas quem sabe eu não chegaria emocionada? Queria ter chorado igualzinho  quando vi as cataratas no dia anterior, mas cheguei só com a cara de “Ainda bem que acabou esta desgraça!” Chato isso.

(Aliás, sobre o meu tempo final era o que eu tinha treinado mesmo e já prevendo  as prováveis caminhadas nas subidas após 32km. Não existe milagre na hora da prova. Fiz 4h e 27min)

Agora esta pós-maratona me surpreendeu: e eu achando que iria correr normal depois de uma semana de descanso, como sou bobinha!

Nunca esquecerei o domingo seguinte à maratona, eu tinha que correr 40 minutos: deu preguiça de colocar a roupa, deu preguiça de desligar a série que eu estava assistindo e durante o treino, que dureza! Que moleza! Que sacrifício! Não doía nada, mas que cansaço infernal! Seria isto o tal bode de maratona que as pessoas tanto falam? (bode: perda de interesse na corrida após maratona)

 Na segunda semana não foi melhor: subidinhas parecendo ladeiras e relógio que não andava. Velocidade? Nem sei mais o que é.  Só tortura. Aquele negócio de correr só por obrigação tomou conta de mim, um sentimento que nunca tive!

Quando consegui fazer 10 km sem sofrimento  domingo passado, fiquei toda feliz. E hoje, neste domingo,  tentei fazer 2 horas de corrida. É claro que não consegui.  Bobinha parte II.

Esta fase em que estou  está parecendo aquelas dietas que, quando a gente para de fazer,  os quilos retornam todos para o lugar de antes. Eu virei uma iniciante! Vou ter que começar a dieta da corrida tudo de novo!  Sábio quem disse que a maratona deixa a gente mais lenta, só podia ter avisado que  era depois da maratona, né?

Mas estamos novamente na luta: se fiz dança do ventre sem o mínimo de talento por quase 5 anos, até parece que vou desistir tão facilmente de algo que gosto tanto! Aliás, parar de correr não é nem possiblidade para mim. Totalmente viciada. Corro até de muletas se um dia precisar!

Volto aqui só quando me inscrever para a próxima maratona. E vou começar os capítulos, tudo de novo...

Até lá!

Capítulo XII (Final) Precisamos falar da Maratona

De Foz do Iguaçu não é necessário falar. Lá é lindo, maravilhoso, quando lembro daquelas cataratas sofro de uma gostosa taquicardia, nunca vi nada mais lindo. Agora, da maratona precisamos falar.

Precisamos falar das subidas intermináveis do percurso, das excelentíssimas ladeiras (é bom ter respeito por  certas subidas ) e de como não dá pra imaginar o caminho só por passear de carro sobre ele: há certos trajetos que apenas as pernas podem julgar - e que o resto do corpo dê um jeito de acompanhar!

Precisamos falar que de Itaipu até as cataratas a distância é enorme!  E que durante o trajeto conversamos e corremos ao lado de várias pessoas e que algumas delas, mesmo aparentando terem mais de 60 anos, nos ultrapassam facilmente no final.

Precisamos falar que do Km 32 até o Km 39 o inferno na terra começa, mesmo dentro de um parque que fornece sombra o tempo todo. E que este negócio de aumentar o ritmo a partir do Km 30 é coisa para a elite  porque os simples mortais estão só trotando neste momento.

Precisamos falar que quando corremos firmes e fortes até o Km 32 e, de repente, encontramos mais subidas ainda, dá uma raiva danada e que, só por não tolerar tal desaforo, a gente começa a andar nelas (subidas) para descansar. E recomeça quantas vezes for necessário. E que não estamos  sozinhas,  que tem mais gente xingando o infeliz que inventou esta droga de maratona, xinga a rainha da Inglaterra que mandou aumentar dois quilômetros só pra ver a chegada do palácio (Folgada!) e a ideia de ter se inscrito numa prova pra ser torturada. Mas tais pensamentos desaparecem, misteriosamente, no Km 40. E o sorriso volta a dominar a gente.

Precisamos falar como a ansiedade é doentia, pois quando se faz todos os treinos e fortalecimentos (Viva o Pilates!) não aparece nenhuma lesão atrapalhando a prova, nadinha, nem uma cãibra rápida. Que sofremos por antecipação à toa e que a nossa mente transforma um beliscão em um glaucoma. Só o cansaço é bem real, do tamanho das cataratas que a gente visitou  no dia anterior.

Precisamos falar da importância do treinador, que funciona como um profeta dos deuses da corrida, um oráculo de Delfos  antecipando futuros problemas, mas  já tentando resolvê-los. Precisamos falar em como é arriscado participar de uma maratona sem uma orientação profissional.

Precisamos falar de coisas engraçadas, como por exemplo, não ter dor nenhuma  depois da maratona e falar para a massagista : “só faz um massagem preventiva”  e quando vai tirar o tênis descobrir que os pés estão cheios de bolhas de sangue!  Ou que coca-cola acompanhada de água é melhor que Gatorade (e que gel de carboidrato será sempre horrível, tomei um só por obrigação) Ou que o único lugar do corpo que esquecemos de passar vaselina se transformará numa medonha assadura que dificultará  os nossos  passos  até para pegar o ônibus depois!

Precisamos falar que não dá para fazer planos de passeios após a maratona porque quando o corpo esfria, queremos apenas ficar deitados na cama. Pra sempre. Todo sempre. Até o  final do século. 

Precisamos falar das pessoas interessantes que conhecemos em eventos de maratona.

Precisamos falar que as metas que desejamos numa maratona podem ser cumpridas se não estivermos doentes.

Precisamos falar que não dá pra se considerar maratonista por causa de  uma prova. Um maratonista se constrói com o tempo, com os treinos, até que chegue o dia em que uma maratona seja um evento comum. Não é meu caso, tenho muito caminho a percorrer. Acreditar que me tornei uma maratonista por causa de uma única prova seria uma presunção um tanto ingênua.

E precisamos falar algo muito importante sobre  maratona: Estou louca para correr tudo de novo em Porto Alegre!

Porque agora sei que é possível. E que será FANTÁSTICO como foi a de Foz de Iguaçu!

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Capítulo XI: E se...


E se os 18 km de subida da Maratona de Foz machucarem a minha panturrilha (ou canela  ou posterior de coxa)?

E se chover?

E se eu não conseguir transporte para o ponto de partida da maratona?

(Come, come, come...)

E se eu tiver insônia a noite inteirinha?

E se o meu torcicolo estranho vir com tudo dias antes da prova?

E se o hotel que eu ficar for barulhento?

(Come, come, come...)

E se eu comer algo que me faça mal na noite anterior?

E se o hotel não oferecer café da manhã a tempo, onde vou achar café 5 horas da manhã?

E se eu tiver cãibras no meio da noite antes da prova?

E se esta dorzinha chata que tô sentindo no músculo X me atacar de novo na véspera da prova?

(Come, come, come...)

E se eu tiver cãibras durante a prova?

E se eu, sem querer, exagerar nos passeios de sábado?

E se eu tiver dor de barriga na prova?

(Come, come, come...)

E se eu perder hora?

E se acontecer algo com minha filha enquanto estou fora?

E se o meu cardio não estiver bom ainda dos remédios que tomei neste mês?

E se eu beber água demais?

E se a minha pressão cair?

(Come, come e come...)

E lá vou eu  e meus 4 quilos adquiridos pela ansiedade pra maratona de Foz de Iguaçu!

Cinco dias a partir de hoje.

Ai que nervoso!

Aí que ansiedade!

Come, come, come...

domingo, 4 de setembro de 2016

Capítulo X : Descarrego


Então a situação está assim: literalmente um peso enorme em meus pescoço-ombros.  É tanto cansaço que não sei como me aguento.  A voz falhou novamente e até achei que demorou pra acontecer: todo ano eu  perco a coitada de tanto usar em sala de aula.

Fiz massagem, remédio por conta própria para passar a dor e nada. É tensão, é tensão...

Treinei em dia de chuva (aliás, foi um treino ótimo)  a minha voz minguou mais ainda e o médico da prefeitura onde trabalho resolveu me indicar antibióticos, nada de descanso em casa. Até parece, né? Porque o mês de agosto tem que ser bem especial, daquele jeito que só este mês consegue ser!
Só que antibióticos são ótimos para matar bactérias e acabar com  a minha capacidade respiratória!
Os 21km em que eu estava inscrita da Track Field de Campinas foi tão pesada que, na minha memória, eu acho até que ficou  meio engraçada, aquele monte de subida sem fim e eu nem me aguentando em pé, como se eu estivesse naqueles desenhos do pateta praticando esportes. Porque não foi só a semana de antibióticos não, teve relaxante muscular também pra aguentar a dor de torcicolo!

Mas eu tinha que  buscar a minha medalha lá: questão de honra!
Pra piorar, eu estava usando uma blusa M que era gigante, que me deixou "fortinha”, como ouvi um comentário de um cara durante a corrida- aliás, como tem conversa em corrida um pouco mais para trás. E aí vai uma reclamação: as camisetas deveriam seguir um padrão:  a M da maratona de São Paulo parece  uma baby look. A gente fica meio confusa deste jeito!

Depois na terça-feira  resolvi enfrentar um ortopedista. E este ortopedista foi um anjo: me mandou descansar e tomar um monte de remédio que me dá sono. E também me perguntou como é que eu estava conseguindo dar aulas sem voz e com tanta dor!
Juro: Fiquei com vontade de chorar por achar alguém bom neste mundo! Eu precisava! Me senti até abraçada na hora!

Então aproveitei os dias que ele me deu pra fazer um descarrego natural. Eu tinha que achar uma cachoeira. E achei: lá em Ubatuba, no Prumirim. Cachoeira deserta, porque todo mundo estava trabalhando.
E com cachoeiras não tem conversa:  entra ou sai. Eu entrei. E aquela porrada  de água gelada em meus ombros ficarão em meus registros mentais como um momento de paz para momentos de tensão! Só minha filhinha de cinco anos estava comigo. E ela ria muito dos meus gritos, estilo montanha russa. E dos tombos também.

Mas aí ela  deixou cair o meu celular na cachoeira. Fiquei tão irritada que ajeitei tudo pra ir embora, enquanto ela chorava, tadinha, dizendo: "Foi acidente, mamãe!"
E me vi sendo  sendo uma bruxa molhada e descabelada. Voltei pra cachoeira e fiz o descarrego de novo. E depois ficamos eu e minha filha lá, na paz, só ouvindo, abraçadinhas, o barulho da cachoeira. 

 A natureza era só nossa!

A volta pra casa foi difícil no dia seguinte : os remédios me deram muito sono, já falei, né?
E Ubatuba é longe pra caramba de Sumaré!

 E eu todo este tempo off-line, sem celular. E, o estranho, parece que o stress deu uma trégua. Efeito da vida real, puríssima!
Nem sei como será esta maratona, só sei que  o que tenho passado no preparo dela tem sido, no mínimo, um aprendizado e tanto. Virei uma lerda, mas uma lerda rodando  31km. E estou totalmente quebrada, se este é o objetivo no preparo de uma maratona, missão cumprida!

Daqui 20 dias será a maratona. Hoje o meu treino era de 30km, mas fiz 27. Quer dizer, parte dos 27: o relaxante muscular de hoje era tão bom, mas tão bom que depois de 2h:20min correndo eu estava era morrendo de sono. Aí o resto, é só imaginar como foi.
Cheguei em casa, peguei uma almofada e deitei no chão. Dormi uma hora naquele  tapete que nem macio é, mas que a gente nem nota nestas horas.

Agora eu só quero uma coisa: limpeza de corpo e da alma nestes dias. E que o dia da Maratona seja o meu batismo neste mundo doido dos solitários nas grandes distâncias.