De Foz do Iguaçu não é necessário
falar. Lá é lindo, maravilhoso, quando lembro daquelas cataratas sofro de uma gostosa
taquicardia, nunca vi nada mais lindo. Agora, da maratona precisamos falar.
Precisamos falar das subidas
intermináveis do percurso, das excelentíssimas ladeiras (é bom ter respeito por
certas subidas ) e de como não dá pra
imaginar o caminho só por passear de carro sobre ele: há certos trajetos que apenas
as pernas podem julgar - e que o resto do corpo dê um jeito de acompanhar!
Precisamos falar que de Itaipu até
as cataratas a distância é enorme! E que
durante o trajeto conversamos e corremos ao lado de várias pessoas e que
algumas delas, mesmo aparentando terem mais de 60 anos, nos ultrapassam
facilmente no final.
Precisamos falar que do Km 32 até o
Km 39 o inferno na terra começa, mesmo dentro de um parque que fornece sombra o
tempo todo. E que este negócio de aumentar o ritmo a partir do Km 30 é coisa
para a elite porque os simples mortais estão só trotando neste momento.
Precisamos falar que quando corremos
firmes e fortes até o Km 32 e, de repente, encontramos mais subidas ainda, dá
uma raiva danada e que, só por não tolerar tal desaforo, a gente começa a andar
nelas (subidas) para descansar. E recomeça quantas vezes for necessário. E que
não estamos sozinhas, que tem mais gente xingando o infeliz que
inventou esta droga de maratona, xinga a rainha da Inglaterra que mandou
aumentar dois quilômetros só pra ver a chegada do palácio (Folgada!) e a ideia
de ter se inscrito numa prova pra ser torturada. Mas tais pensamentos desaparecem,
misteriosamente, no Km 40. E o sorriso volta a dominar a gente.
Precisamos falar como a ansiedade é
doentia, pois quando se faz todos os treinos e fortalecimentos (Viva o
Pilates!) não aparece nenhuma lesão atrapalhando a prova, nadinha, nem uma cãibra rápida. Que
sofremos por antecipação à toa e que a nossa mente transforma um beliscão em um glaucoma. Só o cansaço é bem
real, do tamanho das cataratas que a gente visitou no dia anterior.
Precisamos falar da importância do
treinador, que funciona como um profeta dos deuses da corrida, um oráculo de
Delfos antecipando futuros problemas, mas
já tentando resolvê-los. Precisamos
falar em como é arriscado participar de uma maratona sem uma orientação
profissional.
Precisamos falar de coisas
engraçadas, como por exemplo, não ter dor nenhuma depois da maratona e falar para a massagista
: “só faz um massagem preventiva” e
quando vai tirar o tênis descobrir que os pés estão cheios de bolhas de sangue!
Ou que coca-cola acompanhada de água é
melhor que Gatorade (e que gel de carboidrato será sempre horrível, tomei um só
por obrigação) Ou que o único lugar do corpo que
esquecemos de passar vaselina se transformará numa medonha assadura que
dificultará os nossos passos até para pegar o ônibus depois!
Precisamos falar que não dá para
fazer planos de passeios após a maratona porque quando o corpo esfria, queremos
apenas ficar deitados na cama. Pra sempre. Todo sempre. Até o final do século.
Precisamos falar das pessoas
interessantes que conhecemos em eventos de maratona.
Precisamos falar que as metas que
desejamos numa maratona podem ser cumpridas se não estivermos doentes.
Precisamos falar que não dá pra se
considerar maratonista por causa de uma
prova. Um maratonista se constrói com o tempo, com os treinos, até que chegue o
dia em que uma maratona seja um evento comum. Não é meu caso, tenho muito
caminho a percorrer. Acreditar que me tornei uma maratonista por causa de uma única prova seria uma presunção um tanto
ingênua.
E precisamos falar algo muito
importante sobre maratona: Estou louca
para correr tudo de novo em Porto Alegre!
Porque agora sei que é possível. E que será
FANTÁSTICO como foi a de Foz de Iguaçu!
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