quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Capítulo XII (Final) Precisamos falar da Maratona

De Foz do Iguaçu não é necessário falar. Lá é lindo, maravilhoso, quando lembro daquelas cataratas sofro de uma gostosa taquicardia, nunca vi nada mais lindo. Agora, da maratona precisamos falar.

Precisamos falar das subidas intermináveis do percurso, das excelentíssimas ladeiras (é bom ter respeito por  certas subidas ) e de como não dá pra imaginar o caminho só por passear de carro sobre ele: há certos trajetos que apenas as pernas podem julgar - e que o resto do corpo dê um jeito de acompanhar!

Precisamos falar que de Itaipu até as cataratas a distância é enorme!  E que durante o trajeto conversamos e corremos ao lado de várias pessoas e que algumas delas, mesmo aparentando terem mais de 60 anos, nos ultrapassam facilmente no final.

Precisamos falar que do Km 32 até o Km 39 o inferno na terra começa, mesmo dentro de um parque que fornece sombra o tempo todo. E que este negócio de aumentar o ritmo a partir do Km 30 é coisa para a elite  porque os simples mortais estão só trotando neste momento.

Precisamos falar que quando corremos firmes e fortes até o Km 32 e, de repente, encontramos mais subidas ainda, dá uma raiva danada e que, só por não tolerar tal desaforo, a gente começa a andar nelas (subidas) para descansar. E recomeça quantas vezes for necessário. E que não estamos  sozinhas,  que tem mais gente xingando o infeliz que inventou esta droga de maratona, xinga a rainha da Inglaterra que mandou aumentar dois quilômetros só pra ver a chegada do palácio (Folgada!) e a ideia de ter se inscrito numa prova pra ser torturada. Mas tais pensamentos desaparecem, misteriosamente, no Km 40. E o sorriso volta a dominar a gente.

Precisamos falar como a ansiedade é doentia, pois quando se faz todos os treinos e fortalecimentos (Viva o Pilates!) não aparece nenhuma lesão atrapalhando a prova, nadinha, nem uma cãibra rápida. Que sofremos por antecipação à toa e que a nossa mente transforma um beliscão em um glaucoma. Só o cansaço é bem real, do tamanho das cataratas que a gente visitou  no dia anterior.

Precisamos falar da importância do treinador, que funciona como um profeta dos deuses da corrida, um oráculo de Delfos  antecipando futuros problemas, mas  já tentando resolvê-los. Precisamos falar em como é arriscado participar de uma maratona sem uma orientação profissional.

Precisamos falar de coisas engraçadas, como por exemplo, não ter dor nenhuma  depois da maratona e falar para a massagista : “só faz um massagem preventiva”  e quando vai tirar o tênis descobrir que os pés estão cheios de bolhas de sangue!  Ou que coca-cola acompanhada de água é melhor que Gatorade (e que gel de carboidrato será sempre horrível, tomei um só por obrigação) Ou que o único lugar do corpo que esquecemos de passar vaselina se transformará numa medonha assadura que dificultará  os nossos  passos  até para pegar o ônibus depois!

Precisamos falar que não dá para fazer planos de passeios após a maratona porque quando o corpo esfria, queremos apenas ficar deitados na cama. Pra sempre. Todo sempre. Até o  final do século. 

Precisamos falar das pessoas interessantes que conhecemos em eventos de maratona.

Precisamos falar que as metas que desejamos numa maratona podem ser cumpridas se não estivermos doentes.

Precisamos falar que não dá pra se considerar maratonista por causa de  uma prova. Um maratonista se constrói com o tempo, com os treinos, até que chegue o dia em que uma maratona seja um evento comum. Não é meu caso, tenho muito caminho a percorrer. Acreditar que me tornei uma maratonista por causa de uma única prova seria uma presunção um tanto ingênua.

E precisamos falar algo muito importante sobre  maratona: Estou louca para correr tudo de novo em Porto Alegre!

Porque agora sei que é possível. E que será FANTÁSTICO como foi a de Foz de Iguaçu!

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