domingo, 4 de setembro de 2016

Capítulo X : Descarrego


Então a situação está assim: literalmente um peso enorme em meus pescoço-ombros.  É tanto cansaço que não sei como me aguento.  A voz falhou novamente e até achei que demorou pra acontecer: todo ano eu  perco a coitada de tanto usar em sala de aula.

Fiz massagem, remédio por conta própria para passar a dor e nada. É tensão, é tensão...

Treinei em dia de chuva (aliás, foi um treino ótimo)  a minha voz minguou mais ainda e o médico da prefeitura onde trabalho resolveu me indicar antibióticos, nada de descanso em casa. Até parece, né? Porque o mês de agosto tem que ser bem especial, daquele jeito que só este mês consegue ser!
Só que antibióticos são ótimos para matar bactérias e acabar com  a minha capacidade respiratória!
Os 21km em que eu estava inscrita da Track Field de Campinas foi tão pesada que, na minha memória, eu acho até que ficou  meio engraçada, aquele monte de subida sem fim e eu nem me aguentando em pé, como se eu estivesse naqueles desenhos do pateta praticando esportes. Porque não foi só a semana de antibióticos não, teve relaxante muscular também pra aguentar a dor de torcicolo!

Mas eu tinha que  buscar a minha medalha lá: questão de honra!
Pra piorar, eu estava usando uma blusa M que era gigante, que me deixou "fortinha”, como ouvi um comentário de um cara durante a corrida- aliás, como tem conversa em corrida um pouco mais para trás. E aí vai uma reclamação: as camisetas deveriam seguir um padrão:  a M da maratona de São Paulo parece  uma baby look. A gente fica meio confusa deste jeito!

Depois na terça-feira  resolvi enfrentar um ortopedista. E este ortopedista foi um anjo: me mandou descansar e tomar um monte de remédio que me dá sono. E também me perguntou como é que eu estava conseguindo dar aulas sem voz e com tanta dor!
Juro: Fiquei com vontade de chorar por achar alguém bom neste mundo! Eu precisava! Me senti até abraçada na hora!

Então aproveitei os dias que ele me deu pra fazer um descarrego natural. Eu tinha que achar uma cachoeira. E achei: lá em Ubatuba, no Prumirim. Cachoeira deserta, porque todo mundo estava trabalhando.
E com cachoeiras não tem conversa:  entra ou sai. Eu entrei. E aquela porrada  de água gelada em meus ombros ficarão em meus registros mentais como um momento de paz para momentos de tensão! Só minha filhinha de cinco anos estava comigo. E ela ria muito dos meus gritos, estilo montanha russa. E dos tombos também.

Mas aí ela  deixou cair o meu celular na cachoeira. Fiquei tão irritada que ajeitei tudo pra ir embora, enquanto ela chorava, tadinha, dizendo: "Foi acidente, mamãe!"
E me vi sendo  sendo uma bruxa molhada e descabelada. Voltei pra cachoeira e fiz o descarrego de novo. E depois ficamos eu e minha filha lá, na paz, só ouvindo, abraçadinhas, o barulho da cachoeira. 

 A natureza era só nossa!

A volta pra casa foi difícil no dia seguinte : os remédios me deram muito sono, já falei, né?
E Ubatuba é longe pra caramba de Sumaré!

 E eu todo este tempo off-line, sem celular. E, o estranho, parece que o stress deu uma trégua. Efeito da vida real, puríssima!
Nem sei como será esta maratona, só sei que  o que tenho passado no preparo dela tem sido, no mínimo, um aprendizado e tanto. Virei uma lerda, mas uma lerda rodando  31km. E estou totalmente quebrada, se este é o objetivo no preparo de uma maratona, missão cumprida!

Daqui 20 dias será a maratona. Hoje o meu treino era de 30km, mas fiz 27. Quer dizer, parte dos 27: o relaxante muscular de hoje era tão bom, mas tão bom que depois de 2h:20min correndo eu estava era morrendo de sono. Aí o resto, é só imaginar como foi.
Cheguei em casa, peguei uma almofada e deitei no chão. Dormi uma hora naquele  tapete que nem macio é, mas que a gente nem nota nestas horas.

Agora eu só quero uma coisa: limpeza de corpo e da alma nestes dias. E que o dia da Maratona seja o meu batismo neste mundo doido dos solitários nas grandes distâncias.

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