quarta-feira, 6 de julho de 2016

Capítulo VII: 31KM

Domingo de manhã a gente acorda, toma café sem leite, come bananas, bolachinhas.
Imagina a estrada.

Liga o celular, aciona o GPS e o enfia na  mochila de hidratação. Coloca musiquinha na orelha e 20 reais no bolso pra emergência. Nunca se sabe.

Todo mundo dorme. O sol está nascendo. Manhã está linda. A gente saí pro treino.
 Sozinha.
A gente desce rua. Cachorros latem. Sobe a rua lotada de motéis.
Chega na Anhanguera.  Calçada do acostamento. Segue em frente.
Vê ladeira de ciclovia e promete subi-la na próxima semana. Se der.
Passa por baixo de viadutos de carros. Há até faixa de pedestre para o ponto de ônibus vazio.
Olha a lagoa da empresa que desde os primórdios da infância esteve lá.
 Passa pelo restaurante que só visita de carro.
 Oi pés!”
“Oi chão! Tô de passagem
Lembra da colega corredora que mora do outro lado da rodovia. Seria legal a companhia. Fica pra próxima.


No ouvido, as músicas de sempre. 
Que riozinho é este que nunca vi?
Que subida é esta que nunca acaba?
Tem a igrejinha, sempre teve a igrejinha, mas agora ela é azul e não está do lado de fora do vidro do carro. Hoje ela está bem pertinho. 

Como pode ter uma lindinha destas neste cimento da Anhanguera?
E chegou a rodovia D. Pedro.
Só acostamento. Sem calçadas. Rodovia antipática para os pés.
Mas tem descida...
Mas tem marginal sendo construída...

Tem até linha do trem!
Sossego.
Tem parada para o gel, o gel não é melequento, como pode um gel não ser melequento?
Tem passarela gigante para o outro lado. Tem condomínio. Tem até grama.
E tem relógio lembrando que já se passaram duas horas!
Mas a gente corre ainda.
Devargarzinho.
Tem mais passarela, tem mais uma pista, tem mais corredores aparecendo.
Tem mais subida. Subida miudinha, doloridinha...
Tem marido já passando de carro, com a filhinha atrás no banco.
Quer carona?”
“Nem pensar
Tem lagoa do Taquaral.

Tem multidão bonita, ajeitada.
E a gente já vestida de trapo de poeira.
Três horas de corrida!
Mais dez minutos...
Mais dez minutos...
Mais dez minutos...
Pronto:  acabei de virar a Madre Tereza de Calcutá.

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