domingo, 11 de dezembro de 2016

2016: O ano que não competi, só corri. E não foi tão mal assim.

Agora que estou devidamente inscrita para a maratona de Porto Alegre de 2017 (ou seja, a luta continua!) vamos aos fatos: foi um ano bem difícil e estressante e a minha imunidade não andou nada bem. Mas há outros pontos de vista a serem considerados, especialmente quando o assunto é corrida:

Sob um olhar competitivo, foi um fracasso: sem nenhum troféu ou pódio. Sob o olhar da maratona, uma simples iniciante. Agora, sob o meu olhar, digo sem medo de errar: virei uma “longuista” e os grandes longos do ano fizeram  de 2016  um ano muito especial.  Eu amei ser  “longuista”, muito mais que maratonista (ainda tem muito chão pra eu me considerar uma)
Maratona de SP2016

Se fecho os olhos e tento pensar nos melhores momentos correndo, relembro o cheiro de manhã nascendo numa rodovia D. Pedro quase vazia ou na revoada de pássaros num bairro de chácaras da minha cidade. E então acho que valeu todo e qualquer treinamento sofrido que já passei  porque se não fossem eles jamais conseguiria ter me tornado uma “longuista”. A sensação de término dos longos de 32km foram sensacionais, como se o mundo estivesse em minhas próprias mãos e o meu corpo fosse o instrumento de sucção da beleza dele.  A liberdade esteve em meus pés, em meu suor e até no meu sofrimento porque ele não é eterno. E a paisagem sempre é bonita!
Maratona de Foz do Iguaçu
Foi um ano que me lembrou a essência da corrida, a maravilha que é a constância e como ela nos leva longe. É bom verificar um tempo rápido de prova, mas apreciar o percurso ainda é melhor. Foi um ano que a minha vaidade atlética foi para o pó e só sobrou esta observadora e esta torcedora das minhas pernas e que elas continuem me conduzindo como sempre fizeram nestes anos todos.  

Também não vou negar: foi neste ano que aprendi que correr e viajar é simplesmente fantástico! Valeu a pena retirar as moedinhas do porquinho!

Meia Maratona Balneário Camboriu


Fim de longão
E é isso por hoje. Acho que virei uma tartaruguinha este ano. Tudo bem, elas são bastante longevas. Gosto disso! E elas sempre chegam onde querem!

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Epílogo de Foz do Iguaçu

Que saudades das Cataratas! E das minhas pernas firmes e fortes, porque estas que eu trouxe de lá estão parecendo gelatinas!

Hoje faz 20 dias que corri a minha primeira maratona. Algumas coisas posso falar com mais racionalidade agora, especialmente  duas características fantásticas  da prova que esqueci de dizer: a saída não ser o mesmo lugar da chegada ( é muito bom só ir para frente e não ficar dando voltas) e o clima fantástico que estava no dia, nem calor, nem frio, uma perfeição! Também analisando a minha “performance” (Que palavra chique!) poderia ter corrido todo o trajeto, sem andar, tá certo que é fácil falar agora que estou  aqui sentada e descansada, mas as pernas só estavam estressadas, não lesionadas. Seria na velocidade "trote", o que reduziria no máximo uns 10 minutos o meu tempo final, mas quem sabe eu não chegaria emocionada? Queria ter chorado igualzinho  quando vi as cataratas no dia anterior, mas cheguei só com a cara de “Ainda bem que acabou esta desgraça!” Chato isso.

(Aliás, sobre o meu tempo final era o que eu tinha treinado mesmo e já prevendo  as prováveis caminhadas nas subidas após 32km. Não existe milagre na hora da prova. Fiz 4h e 27min)

Agora esta pós-maratona me surpreendeu: e eu achando que iria correr normal depois de uma semana de descanso, como sou bobinha!

Nunca esquecerei o domingo seguinte à maratona, eu tinha que correr 40 minutos: deu preguiça de colocar a roupa, deu preguiça de desligar a série que eu estava assistindo e durante o treino, que dureza! Que moleza! Que sacrifício! Não doía nada, mas que cansaço infernal! Seria isto o tal bode de maratona que as pessoas tanto falam? (bode: perda de interesse na corrida após maratona)

 Na segunda semana não foi melhor: subidinhas parecendo ladeiras e relógio que não andava. Velocidade? Nem sei mais o que é.  Só tortura. Aquele negócio de correr só por obrigação tomou conta de mim, um sentimento que nunca tive!

Quando consegui fazer 10 km sem sofrimento  domingo passado, fiquei toda feliz. E hoje, neste domingo,  tentei fazer 2 horas de corrida. É claro que não consegui.  Bobinha parte II.

Esta fase em que estou  está parecendo aquelas dietas que, quando a gente para de fazer,  os quilos retornam todos para o lugar de antes. Eu virei uma iniciante! Vou ter que começar a dieta da corrida tudo de novo!  Sábio quem disse que a maratona deixa a gente mais lenta, só podia ter avisado que  era depois da maratona, né?

Mas estamos novamente na luta: se fiz dança do ventre sem o mínimo de talento por quase 5 anos, até parece que vou desistir tão facilmente de algo que gosto tanto! Aliás, parar de correr não é nem possiblidade para mim. Totalmente viciada. Corro até de muletas se um dia precisar!

Volto aqui só quando me inscrever para a próxima maratona. E vou começar os capítulos, tudo de novo...

Até lá!

Capítulo XII (Final) Precisamos falar da Maratona

De Foz do Iguaçu não é necessário falar. Lá é lindo, maravilhoso, quando lembro daquelas cataratas sofro de uma gostosa taquicardia, nunca vi nada mais lindo. Agora, da maratona precisamos falar.

Precisamos falar das subidas intermináveis do percurso, das excelentíssimas ladeiras (é bom ter respeito por  certas subidas ) e de como não dá pra imaginar o caminho só por passear de carro sobre ele: há certos trajetos que apenas as pernas podem julgar - e que o resto do corpo dê um jeito de acompanhar!

Precisamos falar que de Itaipu até as cataratas a distância é enorme!  E que durante o trajeto conversamos e corremos ao lado de várias pessoas e que algumas delas, mesmo aparentando terem mais de 60 anos, nos ultrapassam facilmente no final.

Precisamos falar que do Km 32 até o Km 39 o inferno na terra começa, mesmo dentro de um parque que fornece sombra o tempo todo. E que este negócio de aumentar o ritmo a partir do Km 30 é coisa para a elite  porque os simples mortais estão só trotando neste momento.

Precisamos falar que quando corremos firmes e fortes até o Km 32 e, de repente, encontramos mais subidas ainda, dá uma raiva danada e que, só por não tolerar tal desaforo, a gente começa a andar nelas (subidas) para descansar. E recomeça quantas vezes for necessário. E que não estamos  sozinhas,  que tem mais gente xingando o infeliz que inventou esta droga de maratona, xinga a rainha da Inglaterra que mandou aumentar dois quilômetros só pra ver a chegada do palácio (Folgada!) e a ideia de ter se inscrito numa prova pra ser torturada. Mas tais pensamentos desaparecem, misteriosamente, no Km 40. E o sorriso volta a dominar a gente.

Precisamos falar como a ansiedade é doentia, pois quando se faz todos os treinos e fortalecimentos (Viva o Pilates!) não aparece nenhuma lesão atrapalhando a prova, nadinha, nem uma cãibra rápida. Que sofremos por antecipação à toa e que a nossa mente transforma um beliscão em um glaucoma. Só o cansaço é bem real, do tamanho das cataratas que a gente visitou  no dia anterior.

Precisamos falar da importância do treinador, que funciona como um profeta dos deuses da corrida, um oráculo de Delfos  antecipando futuros problemas, mas  já tentando resolvê-los. Precisamos falar em como é arriscado participar de uma maratona sem uma orientação profissional.

Precisamos falar de coisas engraçadas, como por exemplo, não ter dor nenhuma  depois da maratona e falar para a massagista : “só faz um massagem preventiva”  e quando vai tirar o tênis descobrir que os pés estão cheios de bolhas de sangue!  Ou que coca-cola acompanhada de água é melhor que Gatorade (e que gel de carboidrato será sempre horrível, tomei um só por obrigação) Ou que o único lugar do corpo que esquecemos de passar vaselina se transformará numa medonha assadura que dificultará  os nossos  passos  até para pegar o ônibus depois!

Precisamos falar que não dá para fazer planos de passeios após a maratona porque quando o corpo esfria, queremos apenas ficar deitados na cama. Pra sempre. Todo sempre. Até o  final do século. 

Precisamos falar das pessoas interessantes que conhecemos em eventos de maratona.

Precisamos falar que as metas que desejamos numa maratona podem ser cumpridas se não estivermos doentes.

Precisamos falar que não dá pra se considerar maratonista por causa de  uma prova. Um maratonista se constrói com o tempo, com os treinos, até que chegue o dia em que uma maratona seja um evento comum. Não é meu caso, tenho muito caminho a percorrer. Acreditar que me tornei uma maratonista por causa de uma única prova seria uma presunção um tanto ingênua.

E precisamos falar algo muito importante sobre  maratona: Estou louca para correr tudo de novo em Porto Alegre!

Porque agora sei que é possível. E que será FANTÁSTICO como foi a de Foz de Iguaçu!

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Capítulo XI: E se...


E se os 18 km de subida da Maratona de Foz machucarem a minha panturrilha (ou canela  ou posterior de coxa)?

E se chover?

E se eu não conseguir transporte para o ponto de partida da maratona?

(Come, come, come...)

E se eu tiver insônia a noite inteirinha?

E se o meu torcicolo estranho vir com tudo dias antes da prova?

E se o hotel que eu ficar for barulhento?

(Come, come, come...)

E se eu comer algo que me faça mal na noite anterior?

E se o hotel não oferecer café da manhã a tempo, onde vou achar café 5 horas da manhã?

E se eu tiver cãibras no meio da noite antes da prova?

E se esta dorzinha chata que tô sentindo no músculo X me atacar de novo na véspera da prova?

(Come, come, come...)

E se eu tiver cãibras durante a prova?

E se eu, sem querer, exagerar nos passeios de sábado?

E se eu tiver dor de barriga na prova?

(Come, come, come...)

E se eu perder hora?

E se acontecer algo com minha filha enquanto estou fora?

E se o meu cardio não estiver bom ainda dos remédios que tomei neste mês?

E se eu beber água demais?

E se a minha pressão cair?

(Come, come e come...)

E lá vou eu  e meus 4 quilos adquiridos pela ansiedade pra maratona de Foz de Iguaçu!

Cinco dias a partir de hoje.

Ai que nervoso!

Aí que ansiedade!

Come, come, come...

domingo, 4 de setembro de 2016

Capítulo X : Descarrego


Então a situação está assim: literalmente um peso enorme em meus pescoço-ombros.  É tanto cansaço que não sei como me aguento.  A voz falhou novamente e até achei que demorou pra acontecer: todo ano eu  perco a coitada de tanto usar em sala de aula.

Fiz massagem, remédio por conta própria para passar a dor e nada. É tensão, é tensão...

Treinei em dia de chuva (aliás, foi um treino ótimo)  a minha voz minguou mais ainda e o médico da prefeitura onde trabalho resolveu me indicar antibióticos, nada de descanso em casa. Até parece, né? Porque o mês de agosto tem que ser bem especial, daquele jeito que só este mês consegue ser!
Só que antibióticos são ótimos para matar bactérias e acabar com  a minha capacidade respiratória!
Os 21km em que eu estava inscrita da Track Field de Campinas foi tão pesada que, na minha memória, eu acho até que ficou  meio engraçada, aquele monte de subida sem fim e eu nem me aguentando em pé, como se eu estivesse naqueles desenhos do pateta praticando esportes. Porque não foi só a semana de antibióticos não, teve relaxante muscular também pra aguentar a dor de torcicolo!

Mas eu tinha que  buscar a minha medalha lá: questão de honra!
Pra piorar, eu estava usando uma blusa M que era gigante, que me deixou "fortinha”, como ouvi um comentário de um cara durante a corrida- aliás, como tem conversa em corrida um pouco mais para trás. E aí vai uma reclamação: as camisetas deveriam seguir um padrão:  a M da maratona de São Paulo parece  uma baby look. A gente fica meio confusa deste jeito!

Depois na terça-feira  resolvi enfrentar um ortopedista. E este ortopedista foi um anjo: me mandou descansar e tomar um monte de remédio que me dá sono. E também me perguntou como é que eu estava conseguindo dar aulas sem voz e com tanta dor!
Juro: Fiquei com vontade de chorar por achar alguém bom neste mundo! Eu precisava! Me senti até abraçada na hora!

Então aproveitei os dias que ele me deu pra fazer um descarrego natural. Eu tinha que achar uma cachoeira. E achei: lá em Ubatuba, no Prumirim. Cachoeira deserta, porque todo mundo estava trabalhando.
E com cachoeiras não tem conversa:  entra ou sai. Eu entrei. E aquela porrada  de água gelada em meus ombros ficarão em meus registros mentais como um momento de paz para momentos de tensão! Só minha filhinha de cinco anos estava comigo. E ela ria muito dos meus gritos, estilo montanha russa. E dos tombos também.

Mas aí ela  deixou cair o meu celular na cachoeira. Fiquei tão irritada que ajeitei tudo pra ir embora, enquanto ela chorava, tadinha, dizendo: "Foi acidente, mamãe!"
E me vi sendo  sendo uma bruxa molhada e descabelada. Voltei pra cachoeira e fiz o descarrego de novo. E depois ficamos eu e minha filha lá, na paz, só ouvindo, abraçadinhas, o barulho da cachoeira. 

 A natureza era só nossa!

A volta pra casa foi difícil no dia seguinte : os remédios me deram muito sono, já falei, né?
E Ubatuba é longe pra caramba de Sumaré!

 E eu todo este tempo off-line, sem celular. E, o estranho, parece que o stress deu uma trégua. Efeito da vida real, puríssima!
Nem sei como será esta maratona, só sei que  o que tenho passado no preparo dela tem sido, no mínimo, um aprendizado e tanto. Virei uma lerda, mas uma lerda rodando  31km. E estou totalmente quebrada, se este é o objetivo no preparo de uma maratona, missão cumprida!

Daqui 20 dias será a maratona. Hoje o meu treino era de 30km, mas fiz 27. Quer dizer, parte dos 27: o relaxante muscular de hoje era tão bom, mas tão bom que depois de 2h:20min correndo eu estava era morrendo de sono. Aí o resto, é só imaginar como foi.
Cheguei em casa, peguei uma almofada e deitei no chão. Dormi uma hora naquele  tapete que nem macio é, mas que a gente nem nota nestas horas.

Agora eu só quero uma coisa: limpeza de corpo e da alma nestes dias. E que o dia da Maratona seja o meu batismo neste mundo doido dos solitários nas grandes distâncias.

domingo, 21 de agosto de 2016

Capítulo IX: DÓI


Qual a função da dor? A principal deve ser avisar que departamentos do corpo não andam bem, para que atitudes possam ser tomadas. A outra,  é fazer-nos lembrar como é bom viver sem ela,  uma espécie de recado perpétuo do universo: “ a vida está boa, você não está com dor, não reclame!”
As dores que tomam a nossa vida durante os treinos para a maratona não são daquelas insuportáveis que ameaçam a nossa existência. Nada disso. São dores chatinhas apenas, que fazem com que fiquemos mais tensos ainda e acabam causando mais dores, uma sequência bem desagradável.
E vem uma dor muscular aqui, outra ali, uma dificuldade para treinar e tudo complica. Meu último longo de 32km foi pura chateação. Corri até parar de doer num local, então aparecia a dor em outro. Desta vez, tive até que caminhar alguns trechos. Ai que saco!
Há consolos para tudo isso, claro: o primeiro é sempre lembrar que esta é a minha primeira maratona, que realmente o meu corpo não está acostumado com esta novidade, mas que um dia ele vai sim, especialmente se eu continuar insistindo e costumo não desistir. Que da mesma forma como aconteceu com os 20km, um dia vou achar que um longo de domingo de 30km vai ser um dia de boa como qualquer outro (pretendo continuar fazendo estes treinos uma vez por mês, tendo maratona à vista ou não.)
O outro consolo é saber que há um quê de sensação de vitória a cada dor vencida e superada. Ninguém volta de uma dor como era antes, é bom não sermos sempre os mesmos. É bom renovar os ciclos da vida. É bom correr até o limite. A gente se sente meio que um super- herói.  A vida está aí pra não ser simples.
Então hoje, final de Olimpíadas (como os atletas de elite inspiram os amadores!) com uma dor de garganta danada,  quase afônica, num dia de chuva e frio, estou  teclando aqui com  um sorrisinho no rosto por não ter encontrado nem ao menos um ciclista neste dia difícil de treino e eu fui mesmo assim, enquanto a maioria das pessoas dormiam ainda. Esta sensação ninguém tira.
Talvez o extraordinário esteja nas coisas simples  que a gente coloca na cabeça. Na minha, tem até distância: 42km. Sei que vai doer. Mas valerá a pena.

domingo, 31 de julho de 2016

Capítulo VIII: Subidas e Descidas

Então uma semana após os meus primeiros e emocionantes 31km, minha panturrilha deu sinal de desistência.  Me cuidei, fiz fisioterapia, descansei e corri a gostosa  meia maratona de Balneário Camboriu.  Mas depois apareceu uma novidade e tanto na minha vida: uma canelite. Por quê?  Há várias opções de respostas:

Resposta 1: Do Treinador: Aumento do Volume.
Resposta 2: Do Fisioterapeuta:  Pisada em falso
Resposta 3: Nutricionista (se eu tivesse) : Tá gorda.
E qual seria a resposta da dona deste corpo?
Resposta  4: Da Corredora: Macumba!!

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Antes de dizerem que sou preconceituosa com religiões africanas, leiam macumba em sentido figurado. Sou agnóstica, please, pra mim é tudo igual!
Em primeiro lugar, tentei  curar a canelite sem remédios, só com fisioterapia, descanso e gelo. As dores diminuíram, mas não sumiram. Agora estou nos remédios, com certeza mais eficientes  (estou pensando tomar cataflam todos os dias no café da manhã). Queria ter tratado esta lesão só no modo natureba, mas tá na cara que caí nas drogas. Chato isso.
Mais chato que ter recorrido às drogas para alívio das minhas lesões está sendo esta tristeza e falta de fé na minha maratona. Antes eu estava na subida, sofrendo, no entanto,  indo ao cume. Hoje me sinto rolando literalmente ladeira abaixo, com a sensação de que vou dar bem de cara com o chão na última batida.
Nem todo mundo tenta a maratona. De um lado, há um ar de descrédito em  algumas pessoas, não acho que elas digam isso conscientemente para me desanimar, mas as declarações são meio pessimistas e me afetam : “Ah, eu quase morri quando eu fiz, tive que andar várias vezes” ou “ Cuidado pra não ficar em último lugar, hein? "Vai fazer bem a maratona de Foz do Iguaçu?”  Também percebo colegas que correm pra caramba, que possuem treinos parecidos com os meus e não foram muito bem em suas estreias. Tenho quase dois meses, mas com esta lesão nova (sinto o tendão de Aquiles querendo fazer graça também) parece que tudo empacou.

Há outro lado irritante que tenho observado: aqueles que não são de correr e do nada resolvem treinar para a  maratona e já conseguem de primeira, porque todos os treinos dão certos, não se machucam, nem faz sol no dia (não chove, nem gela, não venta), os músculos não se afetam,  tudo saí tão perfeito que dá vontade de avançar no pescoço deles! (tô chateada, me deixa!)
Na verdade, estou morrendo de  medo de fracassar. O fracasso tem várias formas e um dos meus maiores medos  é o de andar durante a maratona., porque voltar a correr depois não é fácil! Digo que pretendo fazer isso pra olhar as cachoeiras, mas, no fundo eu não quero. Não vou me sentir maratonista se eu o fizer. Odeio arrependimentos pós-prova e meu mantra quando estou correndo é “Não posso ter arrependimentos, não posso ter arrependimentos ...”  Não tenho preocupação com o tempo,  porém  quero praticar o esporte corrida, não caminhada.

Então fica assim: estou lá embaixo agora e preciso subir. Espero dias melhores e novas esperanças. Quem sabe se eu conseguir realizar com sucesso o meu próximo super longo?
Aguardando o próximo tempo.

Notícias de última hora: O que aconteceu no dia do meu super-longo? Tive uma infecção intestinal medonha!

"Às vezes, o capeta passa dos limites!" (outra expressão em sentido figurado, pelo amor de Deus!)




quarta-feira, 6 de julho de 2016

Capítulo VII: 31KM

Domingo de manhã a gente acorda, toma café sem leite, come bananas, bolachinhas.
Imagina a estrada.

Liga o celular, aciona o GPS e o enfia na  mochila de hidratação. Coloca musiquinha na orelha e 20 reais no bolso pra emergência. Nunca se sabe.

Todo mundo dorme. O sol está nascendo. Manhã está linda. A gente saí pro treino.
 Sozinha.
A gente desce rua. Cachorros latem. Sobe a rua lotada de motéis.
Chega na Anhanguera.  Calçada do acostamento. Segue em frente.
Vê ladeira de ciclovia e promete subi-la na próxima semana. Se der.
Passa por baixo de viadutos de carros. Há até faixa de pedestre para o ponto de ônibus vazio.
Olha a lagoa da empresa que desde os primórdios da infância esteve lá.
 Passa pelo restaurante que só visita de carro.
 Oi pés!”
“Oi chão! Tô de passagem
Lembra da colega corredora que mora do outro lado da rodovia. Seria legal a companhia. Fica pra próxima.


No ouvido, as músicas de sempre. 
Que riozinho é este que nunca vi?
Que subida é esta que nunca acaba?
Tem a igrejinha, sempre teve a igrejinha, mas agora ela é azul e não está do lado de fora do vidro do carro. Hoje ela está bem pertinho. 

Como pode ter uma lindinha destas neste cimento da Anhanguera?
E chegou a rodovia D. Pedro.
Só acostamento. Sem calçadas. Rodovia antipática para os pés.
Mas tem descida...
Mas tem marginal sendo construída...

Tem até linha do trem!
Sossego.
Tem parada para o gel, o gel não é melequento, como pode um gel não ser melequento?
Tem passarela gigante para o outro lado. Tem condomínio. Tem até grama.
E tem relógio lembrando que já se passaram duas horas!
Mas a gente corre ainda.
Devargarzinho.
Tem mais passarela, tem mais uma pista, tem mais corredores aparecendo.
Tem mais subida. Subida miudinha, doloridinha...
Tem marido já passando de carro, com a filhinha atrás no banco.
Quer carona?”
“Nem pensar
Tem lagoa do Taquaral.

Tem multidão bonita, ajeitada.
E a gente já vestida de trapo de poeira.
Três horas de corrida!
Mais dez minutos...
Mais dez minutos...
Mais dez minutos...
Pronto:  acabei de virar a Madre Tereza de Calcutá.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Capítulo VI: Os 28km falando por eles mesmos

Olá! Somos 28 irmãos e pertencemos a família dos Quilômetros. 
Uma certa amadora  quarentinha  resolveu nos conhecer. Na verdade, ela já conhecia alguns de nós, a maioria dos corredores nos conhecem até o irmão 10km,  aí começam a criar intimidade e tal e, por isso,  até os 20km recebemos  visitas.  Rotineiramente, são poucos os que visitam as casas acima dos 25km. Nossos irmãos  acima dos 30km somos quase reclusos . Temos o irmão 42km, que  é bem famoso e vive dando medalhas para quem o visita, mas já  anda perdendo a  arrogância antiga graças aos nossos irmãos ultra. Enfim, chega de falar da nossa família e vamos ao que interessa: nossas visitas!
A atletinha amadora Josi não foi sozinha nos visitar, na verdade ela foi acompanhada por um nosso conhecido chamado Ari, que já é da casa. Gente boa este Ari! Com certeza, isso facilitou a nossa aceitação da tal Josi.
Vamos  aos fatos, relatos e fofocas desta visita:

Km 1 e 2: Somos descida. Somos lindos. Somos Fofos. Tipo cobertores aquecendo para a noite de inverno. Amamos todos os corredores e com o Ari e Josi não fomos diferentes.
Km 3- Sou bem conhecido  na cidade e tenho uma subida bem bacana. Também sou rico, cheio de comércios e bancos. Sou o máximo e muito acostumado a visitas pedestres, carros também- é necessário muita sorte para estacionar em mim. Sou imprescindível para o povo desta cidade de Sumaré.

Km 4: Sou a avenida mais famosa da cidade para corredores. Todos me escolhem, mesmo eu sendo de concreto e asfalto. Invejosos dirão que é por falta de opção, tô nem aí pra eles,  deixo eles falando sozinhos.
Km 5: Me chamo avenida da Saudade e está na cara que só posso ser a rua que leva ao cemitério da cidade. Já recolhi muitas lágrimas de caminhantes, mas agora não as vejo muito, elas estão motorizadas. Vai lá Josi e Ari!
Km 6 e 7: Somos rústicos, somos terra, somos chão batido. Somos parte subida, somos retão. Somos cheirosos, com árvores e passarinhos. Somos um sonho!

Km 8, 9 e 10: É o seguinte: a gente não gosta de frescura. Na verdade, a gente é quase um morro no meio do mato! Somos frequentados por ciclistas, o Km 4 se gaba de ser famoso, mas só os valentes nos enfrentam! Somos descida íngreme e não somos simplesmente subidas, somos quebra-panturrilha (e coxas, no caso dos ciclistas) Ari nos conhece bem, vem toda semana. Trouxe a novata, que desceu e subiu num ritmo “básico” e não parou. Não que não tenhamos deixado lembranças...
Ficamos sabendo que ela ainda vai querer visitar o nosso irmão 28: nós rimos!

Km11: Olá! Passo por cima da Rodovia Bandeirantes, tenho uma ponte  e tenho torres de energia. Sou terra e parte asfalto. Ari e Josi passam até que rápidos por mim.
Km 12, 13 e 14: Eita trem bão! Temos  trator, temos chácaras e temos  bar para pinguço rural. Mas principalmente, temos terra fofa, levantamos   poeira!  Gostamos  de deixar nossas marcas de terra nestes tênis comprados em shopping em quem nos visita.  Mas somos educados, tratamos bem estas duas visitas, não temos  subidas.  Até a próxima, corredores!

Km 15: Eu tenho igreja de bairro, escola de criança pequena, campo de futebol, mas, principalmente, tenho água. Pra a tal da Josi (que conheço motorizada, ela vive passando por mim para visitar um parente) não faço diferença, ela está com uma mochila de água. Já o companheiro Ari só curte minha água e não aceita estas águas ensacadas de mochila. Gente boa, ele e os ciclistas de sempre!
Km 16 e 17: Temos grama, somos  beira de pista de acesso. Não sujamos  ninguém e somos bons  para descansar a sola dos pés.  Temos  revoada de pássaros de manhã bem cedo, bem no  horário que estes corredores estão passando. Fornecemos distração para a mente deste pessoal que já começa a ficar cansado...

Km 18: Sou Rodovia Bandeirantes, sou cheio de asfalto, carros e até  pedágio.  Ari corre por mim normalmente, mas a corredora atrás já diminuiu o ritmo consideravelmente. Vejo ele voltando para buscá-la, ela ficou pra trás, coitada! Foi em mim que o efeito da visita aos meus irmãos Km 9 e 10 ocorreu e isto era bem previsível!
Km 19: Eu e meu irmão Km 18 somos como casas geminadas: o meu irmão, asfalto. Eu, terra. Somos grudadinhos. Vejo todo o movimento festeiro ao lado, mas sou mais simples e rústico. E parece que isso ajudou na recuperação da Josi. Faltam só mais 9 irmãos para serem visitados.

Km 20: Sou terra batida cheia de emoções , tipo uma montanha russa, com rampas curtas, mas intensas. Não poderão me chamar de tedioso por isso estou indignado com as reclamações  da Josi.
Km 21:  Sou aparentemente normal, com morrinhos de sempre para variar, sou  assim mesmo, previsível. Quer dizer, tenho umas surpresinhas: cachorros latindo, com aqueles dentões de fora, meus bichinhos de estimação! Não sei porque estes corredores não gostam deles, eu fico magoado com isso.

Km 22 e 23: Sou repleto de sítios e se os muros não fossem tão altos daria pra ver as caminhonetes chiques dos nossos inquilinos. Somos  terra contínua, com  descida suave. Somos despedida do campo. Somos agradáveis e simpáticos,  dá pra perceber quando os colegas corredores passam por nós tranquilamente. 
Km 24: Acabou a moleza MESMO. Meu nome oficial é Subida do Macarengo. Tenho casas. Sou asfalto. Os corredores agora tem público. Sou bem inclinado, bastante inclinado, dolorosamente inclinado. Me orgulho de ser um pesadelo, não mandei ninguém passar por aqui. A corredora já começou a  andar. E ainda acham que meu número é de veado!
Por ironia, termino num pronto socorro, o Upa. Ironia, não: Necessidade! Há, Há, Há!

Km 25: Tenho asfalto, tenho casas. Tenho água de poço artesiano. Tenho parada oficial em função disto. Sou amado, desejado, sou retilíneo, sou perfeito. Forneço sombra.
Eu acho que tudo isso é necessário, o meu irmão 24km não tem coração!

Km 26: Sou o antigo Km 3. Tenho várias faces. Agora sou uma descida muito boa, mas continuo chique e rico, quero deixar isso bem claro!
Km 27 e 28: Somos os antigos 1km e 2km aquecedores. Agora somos os detonadores, viramos nossa face e somos subidas.
Somos o Alfa e o Ômega. O começo e o Fim.
Nós sim somos os melhores,mas gostamos destes dois: eles estão sempre com a gente!

Prólogo
Segundo fonte confiáveis e inanimadas como nós,  Ari voltou para casa normalmente e curtiu o domingo como qualquer outro fim de semana. Já a tal da Josi sofreu assaduras que gritaram no momento do banho, isso porque a tal visita que ela nos fez foi numa manhã agradável de outono. E comeu umas dez tangerinas para matar a fome e a sede que a atacaram depois.
E ela ainda vai tentar visitar o nosso irmão 32 km!! É doida!

sábado, 18 de junho de 2016

Capítulo V: A perfeição dos 20km

Não sou especialista, mas desconfio que correr não seja algo da nossa natureza, a gente meio que força para isto acontecer. Só isso explicaria a dificuldade que é voltar aos treinos de longas distâncias após um período de 40 dias correndo apenas 10km - ou menos.

(Obs: Não vou mencionar que esta dificuldade possa ser a canseira dos 41 porque não quero admitir que já tenho esta idade, eu ainda sinto o gosto do pedaço de bolo que comi no meu aniversário de 25! É, tenho memória gustativa de formiga.Se é que elas tem memória) 

Como já disse na introdução da minha jornada "maratonística", tive uma lesão no pé e, além disto, um tratamento longo e cheio de antibióticos para o estômago que atrapalharam minha vida de corredora. Nem que eu quisesse daria  para treinar direito, o corpo não colaborava muito. Quando o pé melhorou e o tratamento terminou, lá fui eu tentar voltar aos 20km rotineiros de domingo. Foi triste.

Em primeiro lugar, tentei o percurso de sempre, perto de casa e no asfalto: além de não conseguir, a sola do meus pés queimavam como se estivesse descalça. Tentei novamente. Não conseguia passar dos 15km.  Comecei a treinar na Lagoa do Taquaral (Campinas) na parte de terra, para evitar a dor da sola dos pés. Tive companhia de meus colegas de treino de Paulínia, foi ótimo, mas o peso das minhas panturrilhas era gigante e isto me deixava insegura (e se elas quebrassem? Tá, sou neurótica com minhas pernas) e o cansaço também era grande. Enfim, consegui correr os 20km apenas após 5 tentativas, ou seja, 5 domingos. Uma eternidade!

Após “firmar” nos 20km, fiz duas meias maratonas: os 24km de SP e a de Campinas, todas no estilo urso Balu, do desenho do Mogli: “Necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais.” Depois que fui assaltada à mão armada este ano, mudei muito o meu modo de pensar em relação às corridas. Quero curtir a paisagem e a leveza do corpo, não mais o descompasso do coração.  Está bom assim, só preciso aprender a controlar a vaidade  que me  sacode de vez em quando em busca de tempos melhores. Pra quê, se o prêmio é ótimo e o mesmo para todos no final?

(Obs 2: Que desapegada, não? )

A distância dos 20km é maravilhosa depois que voltamos a ela! Há um trecho dentro do meu percurso rotineiro que é dentro de um condomínio, ainda sem moradores. Quando estou sozinha e não tem ninguém por perto pra me chamar de doida, corro de braços abertos, sentindo  o ar fresco da manhã e a energia do sol que acaba de nascer.  Todos os problemas parecem distantes e descabidos  em momentos assim. É claro que no fim do longão estou bem cansada, mas a sensação de realização pelo treino realizado que sentirei o dia todo motiva o esforço. Então me pergunto: O que deu na minha cabeça pra querer correr uma maratona  já que sei que ela não será tão prazerosa assim, mesmo que eu me prepare bastante?

A emoção do desconhecido talvez seja a resposta. Mas o caminho já vi que é difícil, meus primeiros 28km podem dizer. E, no próximo capítulo, vou deixar eles falarem por si!




domingo, 12 de junho de 2016

Capítulo IV: Regime para maratona (spoiler: não vou fazer)


Como foi lindo em matéria de corrida o ano de 2014: fiz meu melhor tempo numa meia maratona (e sem muito esforço)  e subi no pódio numa geral pela primeira vez -antes  eram apenas prêmios na categoria.
 O que teve de especial  que eu deveria levar em consideração para a minha primeira maratona?  Entre alguns fatores que não vêm ao caso agora, acredito que o meu pouco peso naquele ano contribuiu bastante.
(Pouco peso, não definição muscular. A barriga chapada vou deixar para uma outra reencarnação.)
No começo foi tudo culpa do livro “Prato Sujo” de Marcia Kedouk.  Em resumo, o livro fala sobre nosso vício nos três “branquinhos”: cocaína, farinha refinada e açúcar. Fiquei muito impressionada com a leitura e quis abolir de vez o problema.  Nunca nem vi cocaína (este foi fácil evitar) e o açúcar já é um caso perdido, nem tentei. Mas a farinha de trigo refinada, esta  valeria a pena tentar tirar do cardápio. E foi o que fiz.
Pesquisei muito. Meu instagram só tinha nutricionistas fitness e só serviam as que passassem receitas. Descobri outras farinhas, a maioria delas caríssimas. Descobri a sucralose e o açúcar de coco. Meu domingo à tarde era ficar fazendo pão estilo Duncan e Paleo para a semana. Não soube mais o que era biscoito sem ser os comprados no Mundo Verde e seus genéricos.  Não queria pão normal de padaria, ficava imaginando ele se transformando em grude (a cola mesmo) no meu estômago se eu  o comesse e isto me dava certo nojinho.
Emagreci fácil. Comecei a vilanizar o glúten. E comprei o livro: “Barriga de Trigo” para ter mais “embasamento”.  E graças a ele larguei a fase de alimentação fitness de vez.
Eu estava lendo o tal livro num hotel,  era dezembro  e estava tentando relaxar após um ano difícil de trabalho. E o livro só falava de doenças causadas pelo glúten, mesmo pra quem não era celíaco. Muitas doenças. Doenças sem fim. E eu só pensando:  “Nossa, ainda bem que não como mais este veneno. Mas eis que chega no capítulo das doenças de pele. E o autor teve a infelicidade de escrever sobre um assunto que conheço bem. A cada linha que eu lia, a indignação aumentava e a raiva subia até queimar meu cérebro. Me senti  humilhada fazendo papel de  palhaça.
O infeliz resolveu falar sobre o vitiligo! Como teve coragem de mentir daquele jeito? Tenho esta doença de pele desde os 9 anos,  minhas mãos  parecem cobertas por uma luva branca por causa disto e mesmo com a tal eliminação do glúten, ele continuou aumentando na minha pele, exatamente o  contrário que o livro afirmava.
Se o autor errou tanto num problema que conheço,  o que dizer dos absurdos que provavelmente escreveu sobre as outras doenças?
Na manhã seguinte, me entupi de pão no café da manhã, experimentei toda a variedade que havia lá.  E comi muita macarronada- com glúten- no almoço.
Lá se foi a minha dieta porque o que motivava mesmo era o efeito dela na saúde, não na pança.
É claro que engordei um pouco de 2014 até agora e é claro que foi na barriga, porém garanto que não é barriga de trigo, é barriga genética mesmo:  a barriga parece ser o único lugar do meu corpo que acumula  gordura. Já me aceitei assim.  As roupas de 2014 ainda me servem,  mas gostaria de estar mais leve para a maratona de Foz. Não vou mentir que a questão peso pode fazer a diferença. Então neste ano eu queria algo ainda mais radical para perder quatro quilos até o dia 25 de setembro:
COMER APENAS QUANDO SENTIR FOME.  Comida saudável ou comida não tão saudável assim. Queria exercer  o comer sem ansiedade. Pelo prazer. Pela necessidade do corpo. Sem passar vontades porque a vida é curta demais pra isto. E esta não seria uma ideia para a maratona apenas, mas para o resto dos anos.
Viajei agora: Utopia nutricional, a gente vê por aqui.

domingo, 5 de junho de 2016

Capítulo III: O tal fortalecimento


Em 2013, quando resolvi correr minha primeira meia maratona, tive uma grande decepção, pois não consegui corrê-la depois do Km 10. A musculatura não deixou, voltei andando , meditando e (sinceramente) chorando pela morte da minha arrogância: era muita petulância achar que já estava  preparada para a prova só porque corria os 10km com tranquilidade. E do parto deste aprendizado dolorido nasceu uma decisão difícil: frequentar academia.
Que lugar mais desagradável  uma academia!  Com certeza Dante descreveria o inferno numa delas se tivesse vivido nos dias atuais. Sei que tem gente que ama e tal, mas eu só vejo vaidade por lá. Não é uma opinião muito boa para  falar de um lugar em que se propaga saúde como intenção principal , mas cada um de nós somos frutos das nossas experiências e a minha nunca foi boa em relação a este assunto e não mudou nada no meu retorno para o tal fortalecimento para corridas longas. Resumindo: me machuquei por lá, mesmo fazendo  tudo certinho como estava no papel da minha ficha. Meu joelho ficou sentindo choques automáticos durante uns três meses.
Eu estava quase desistindo desta porcaria de história de fortalecimento quando marquei um encontro com o Pilates.  Assim como muitos, eu achava que era só uma perda de tempo, esporte de velhos e doentes da coluna. Preconceito puro.
No Pilates, curei meu joelho, tratei meus tendões frágeis e comecei a achar até admissível fazer abdominais (amar abdominal? Jamais!) No Pilates, achei um profissional que faz fisioterapia quando necessário e que corrige até se o meu dedo do pé está na direção errada durante o exercício. No Pilates, encontrei o fortalecimento em formas variadas, até aprendi o que era uma prancha (um pesadelo!)
Mesmo com as pranchas, eu havia encontrado o círculo do paraíso suado que o Dante também poderia descrever em seu livro.
Mas numa tarde escura de tempestades sombrias (metafóricas), o treinador disse que para a maratona o Pilates não seria suficiente e que eu teria que voltar para a academia. Disse isso sem preliminar nenhuma, sem vinho, nem jantarzinho antes. No supetão.
Qual foi a minha reação? Assinale a alternativa correta:
a-      (     )Chorei e voltei para a academia.
b-      (     ) Disse que preferia fazer fortalecimento olhando as musas do instagram.
c-       (     ) Dedei colegas maratonistas que fazem fortalecimento só quando chove -pq não dá pra correr.
d-      (     ) Relatei  minha fobia de academia e que prefiro arriscar com o Pilates a ser infeliz.
  Resposta D, é claro.
 Contei para o meu professor de Pilates o ocorrido. Ele disse que cada um vê a sua área e que, na visão dele, o departamento que é de sua jurisdição estava muito melhor, já que não tive mais as dores da época que cheguei. E continuamos o fortalecimento de sempre.  Com algumas atividades extras de resistência, é claro.
O que vai acontecer daqui pra frente?  O Pilates será suficiente?  Tanto faz: não volto pra academia, a não ser que o dinheiro diminua,  diminua muito mesmo e eu tenha que sobreviver com uma cesta básica por mês!
Porque estou nesta vida é pra ser feliz. Pra que mais seria?

sábado, 28 de maio de 2016

Capítulo II- O Cardiologista

Não pensem que sou daquelas pessoas doidas que praticam corrida sem frequentar o cardiologista, não tenho a mínima vontade de morrer correndo toda suada, fedendo e com sede. Então tenho (tinha) um cardiologista que vejo (via) de dois em dois anos porque, segundo ele, este tempo é suficiente se a questão é só verificar se estou apta para meu querido esporte.

A primeira vez que fui neste cardiologista  foi por causa de um relógio com marcador cardíaco que apontava sempre que eu estava tendo um infarto enquanto eu corria. Ele fez todos os exames, inclusive o de esteira- achei horrível, nunca corri em esteira, que coisa mais sem graça, parece instrumento de tortura- e falou pra jogar o relógio fora e correr tranquilamente. Ele foi muito legal, disse que a mulher dele teve o mesmo problema com o monitor cardíaco dela, me senti até à vontade para falar mal de uns ortopedistas que ficam mandando a gente parar de correr na primeira lesão que aparece e ficam praticamente jogando praga profetizando que teremos dores lancinantes no quadril quando ficarmos velhos e o cardiologista foi todo bacana concordando comigo que é assim mesmo, que alguns colegas de profissão são meio exagerados.  Achei o médico o máximo!

Só que dois anos depois ele foi possuído pela alma de um médico ortopedista agourento!

Fui ao consultório,  ele mal olhou pra minha cara, fez os exames de eletro, considerou desnecessário fazer esteira, mandou fazer uns exames de sangue e disse que eu nem precisava tanto assim ir de dois em dois anos.  Isso foi em outubro do ano passado.

Voltei ao consultório dele em abril pra pegar o tal laudo pra fazer a maratona de Foz  e eu, toda animada, pensando que ele iria simplesmente fazer o documento. Coitada de mim: ele mandou fazer o teste de  esteira porque eu não tinha feito  da outra vez.

Eu: Mas só não fiz esteira porque você falou que eu não precisava!
Médico possuído: Mas você não ia correr uma maratona, não é?
Médico Possuído de novo: E é melhor você dar seus pulos: teste de esteira  neste prazo de 10 dias pra você fazer a inscrição, não sei se vai dar. E eu não posso assinar laudo sem ter certeza do seu quadro clínico.
Eu (pensando e olhando silenciosamente para o médico): Como assim, só faço esteira se eu fizer maratona? E as outras corridas?  Por que na primeira vez eu fiz então?
Eu (falando agora): Tá.
(Sei que a minha postura foi muito submissa, mas não estava a fim de trocar- muito menos brigar- com o cardiologista com um prazo tão curto de tempo para resolver meu problema.)

Fui atrás dos lugares para marcar a tal da esteira.  Todas as clínicas só tinham o exame para o mês seguinte.  Quando cheguei  no terceiro local, acho que meu olhar foi tão desesperador (provavelmente a voz de súplica também ajudou) que a recepcionista me encaixou num horário na mesma semana. O cardiologista do teste foi muito simpático e tal, mas agora não caio mais nesta conversa de médico legal.

Peguei o resultado do teste. Levei para o cardiologista. Ele finalmente fez o laudo. Mandei por email para a organização da prova de Foz . Deu certo. No minuto final, como sempre, mesmo que eu planeje tudo com bastante antecedência.

Meu marido diz que o meu ex- cardiologista não fez nada de errado, que é assim que as coisas funcionam. Não concordo: se realmente ele se importasse com o meu “coração”, teria feito o teste de esteira quando fui fazer meus exames de rotina. Pra mim, a preocupação dele era outra: o nome dele no papel. E só.

Capítulo I: Túnel apertadinho

As inscrições para a Maratona de Foz do Iguaçu abriram no dia 25 de abril. Um mês antes, o site de inscrição já estava na lista dos meus favoritos. Um mês antes, eu já havia deixado duas páginas de informações para que meu marido fizesse a inscrição para mim, pois dou aulas todas as manhãs. Por que todo este desespero?

  -  Só havia 800 inscrições para a maratona individual ( ao contrário de umas provas por aí que quanto mais gente melhor, desde que paguem bem pra isto. Tipo São Silvestre.  Tipo Maratona de São Paulo. Tipo Yescom) Já a de Foz do Iguaçu o  preço era até bacana: R$70,00.
        - A data, como  já havia dito, daria tempo para me preparar. Se não fosse ela, só sobraria Curitiba, mas em novembro o meu corpo já não responde aos meus comandos: eu digo corra, ele entende anda e se eu insistir muito, se lesiona. De propósito, provavelmente. O cérebro e os músculos entram numa relação de conflito que não gosto de interferir.
 -  Correr no paraíso: quem não quer? Com subidas sim, mas tudo o que sobe, desce...

Mas o outro motivo da minha preocupação com a inscrição chamava-se comerciários. Segundo o site de inscrição, eles tinham direito a se inscrever uma semana antes. E na minha mente fértil, todos os comerciários viraram maratonistas, do nada! Não é de hoje que eu tenho meio que ciúmes desta classe: na Praia Grande, em São Paulo, há três anos vou correr a meia maratona de lá. E as pousadas, tirando a do último ano, foram horríveis. Os hotéis, muito barulhentos, ficam no Boqueirão, muito longe da largada. Então eu olhava pra colônia de férias dos comerciários que tem lá, tão perto do mar, tão perto da largada, tão longe do barulho e me dava certa tristeza em não ser um comerciária, mesmo nem sabendo exatamente o que um comerciário faz. (Se você é um comerciário, saiba que você tem bastante vantagens nas corridas longas de rua e deveria aproveitar o benefício. Só acho)

Mas acabou  dando  tudo certo, meu marido fez a minha inscrição na manhã em que as inscrições para o “povão” foram abertas, imprimiu o boleto, fui ao banco, toda emocionada, mas é claro que era zoeira , não estava tudo certo não:  leio uma informação no boleto, bem na hora em que eu passava o código de barras: “É necessário laudo médico. Se em 10 dias  ele não for enviado à organização da prova, a inscrição será cancelada.”

Tipo aqueles avisos de computador doido nos filmes de ficção científica pra sair correndo da sala em dez segundos porque tá vindo bomba.

A casa caiu. 

A primeira maratona: Introdução

Só foi fazer dez meias maratonas e pensar em trocar o meio por um inteiro que os problemas surgiram. Acho bacana gente que decide fazer uma maratona, se inscreve, treina, faz a prova e fica depois só dormindo de conchinha com a medalha merecida. É claro que este não é o meu caso, comigo tudo tem que ser dramático, estilo mocinho de novela bigodudo abraçando heroína chorona.

A estreia numa maratona precisava ser um marco, algo especial, mais ou menos o equivalente a uma mulher perdendo a virgindade na noite de núpcias no Afeganistão. Nada de fazer a primeira maratona em São Paulo, todo mundo vai pra São Paulo comer mortadela no Mercadão! Nada de fazer a Maratona de Campinas ou de Piracicaba e ter que ficar rodando um mesmo trecho pra lá e pra cá, aquilo aciona labirintites secretas. Não!! A pessoa aqui fica inventando. E resolveu sonhar com Porto Alegre, em junho, com aquele frio elegante , quem sabe até correndo com uma touca na cabeça pra na foto ficar parecendo que está correndo na Europa- só na foto porque, obviamente, não tenho dinheiro pra correr na Europa.

 Mas só foi pensar em Porto Alegre, me imaginar nas ruas geladas de lá e já apareceu uma lesão estranha no pé que me fez demorar a voltar até mesmo aos longos tranquilos dos domingos. E depois veio gastrite com bactéria no estômago ( um mistério total de onde veio a miserável) e um porrada de antibióticos para, por fim, me obrigar a dar adeus para Porto Alegre lá da janelinha do meu avião imaginário. Junho não dava mais para se preparar. E agora? Qual a outra opção?

Então fui pro lugar que a gente vai quando não tem o que fazer e quando temos o que fazer também: a internet. Vi uma cena impressionante, quase uma iluminação: uma subida enorme e um povo doido se espremendo nela. Mas era linda a moldura, deu pra sentir o clima de ar condicionado –modo fresco, claro- aqui de casa. Cliquei em cima da imagem: Maratona de Foz do Iguaçu. “Çu” rima com “Sul”. Perdi o “Sul” do “Rio Grande do Sul”, mas esta sonoridade simpática me trouxe esperança. A prova, em Setembro. Dá tempo. Foco nela. Mas é claro que tudo está sendo complicado. Como sempre, desde o começo. Segue o relato da minha novela, em tempo real. Preciso ir pra um balneário ou uma banheira qualquer mesmo ( mentira: balneário é mais estiloso!) e me jogar no sal grosso.